sábado, 25 de abril de 2009

09 - Eu não ia no show do The B-52s

Essa é a mais pura verdade: Eu não ia no show do The B-52s. 

Conheci e comecei a gostar dos "Bê-52", tb apelidados por aqui de "bife com chuchu", pelos idos de 1984. Nessa época, comprei todos os vinis lançados e acompanhava as parcas novidades pela Biss ou por uma ou outra revista de cifras que faziam pequenas introduções das bandas nas primeiras páginas. Eu garimpava essas informações, assim como as de outras bandas que gostava, nas bancas de revistas ou onde mais pudesse encontrá-las. Me tornara um fã - um outer space, como são chamados os fãs dos B's.

Em 1985 não pude ir ao Rock In Rio. Só tinha 15 anos. Fiquei frustrado. Fiz uma promessa de, um dia, ganhar um beijo da Cindy Wilson no rosto. Em verdade, as promessas eram duas: ganhar o beijo da vocalista loira do
"Bê-52" e cumprimentar Mark Mothersbaugh, vocalista míope da banda Devo. É "divo". E não "devo, não nego, pago quando puder". Cansei de ouvir essa piadinha.

Em 1989, mais do que cumprimentar Mark Mothersbaugh, eu conheci toda a banda, ganhei um botom do vocalista e fui convidado para subir no palco em uma das apresentações. Não, eu não dei uma da Katilce com Bono Vox. Longe disso. Fui convidado a marchar, em alinhamento com os membros da banda, durante uma música cujo solo era uma  longa batida militar. E não passou disso!!! Juro... juro mesmo!!!


Em 1999, The B-52s se apresentou no Brasil pela segunda vez. Se apresentaram na Hípica Paulista e eu estava lá. Algumas horas antes do show me encontrei com a banda... Kate, Fred, Keith... Mas Cindy não estava lá. Havia ganhado bebê naqueles dias e eu fiquei sem meu beijo. Todos os beijos que ela tinha para dar, naqueles meses, foram para o bebê... provavelmente!!!
O ano era 2009. Apesar de ser um fã extremado dessa banda da Georgia desde 1984, após uma análise fria, eu sei que esse show nunca deveria custar mais que um da Madonna ou do U2. Tá certo, é no Credicard Hall, casa pequena e com mais conforto que no Morumbi, ficamos mais próximo do palco etc etc. Mas não vale, cacete. O Credicard Hall, sabidamente, sempre usou desses expedientes de tortura para arrancar confissões de seus inimigos. Técnicas eficientes que têm conseguido segredos de segurança nacional... e tb grandes punhados de dinheiro de seus frequentadores. Isso, explicável pela demanda brasileira por bons espetáculos.  Além disso, em Porto Alegre, dois dias após, o mesmo show custaria uns 60% de São Paulo. No Chile, na mesma semana, custaria cerca de 40% de São Paulo. E o Chile é mais longe dos EUA que aqui... Isso, inexplicável.

Eu cheguei à conclusão de que não participaria dessa orgia monetária promovida pela famosa casa paulistana e ponto final. Kate, Fred, Cindy e Keith que me desculpem, mas não vai rolar!!! Ah, quanto a promessa feita nos 80's, nem me lembrava mais disso havia muito...

Noite de 16 de abril, menos de 48 horas para o show dos B's. Navegando pela comunidade da banda no orkut eu li um post solitário sobre uma promoção para concorrer a uma par de ingressos para os B's. Mais tarde, vi que o post continuava solitário e resolvi clicar no link sugerido, que levava ao site Vírgula. Uma pergunta. Uma perguntinha apenas. Uma resposta criativa seria suficiente para o par de ingressos. Nem precisaria ser a mais criativa de todas. Bastaria ficar entre as oito melhores.

O que vc faria para a sua festa ficar mais divertida que um show do The B-52s?
Quando eu li essa pergunta senti cheiro de tinta de impressão de ingressos ao meu alcance e não me perguntem o motivo dessa intuição. Mas eu senti sim!

"Minha Party Out Of Bounds teria 52 girls, Fred and Keith servindo Quiche Lorraine, kate e Cindy cantando Nude on The Moon caracterizadas e brindando a champanhe francesa."

Olha, se vc não achou a frase criativa foda-se pq eu ganhei o par de ingressos com ela!!!

Dia do show. Minha filha ficou sabendo que iríamos ao show e soltou:
- Oba! Adoro The B-52s!!!

Com oito anos, não poderia entrar no show com os pais. E nem havia um terceiro ingresso. Confesso que, nessa hora, bateu aquele famoso remorso paterno característico de alguma bobagem que falamos ou ato fora de hora que cometemos e que acabam atingindo a inocência dos filhos... Mesmo que não tenhamos culpa alguma por isso. E ainda fui eu quem a ensinou a gostar de várias coisas e bandas dos 80's e 90's. Como sair dessa agora?. E numa tentativa desesperada e injustificada de compensá-la um pouquinho pelo que não tinha culpa, propus à pequena ir ao hotel onde a banda estaria hospedada para lhe mostrar os quatro tiozões da Georgia. E ela topou! Todas as últimas bandas que se apresentaram em São Paulo se hospedaram no Hilton Morumbi e prá lá que nós fomos, meio na sorte.
Quando estiveram aqui em 1999, saíram do hotel para a passagem de som por volta das 15:00 e essa era uma informação relevante que estava guardada em minha memória. Enfim, fui juntando algumas peças, montando um quebra-cabeças daqueles comportamentais que fazem os agentes do FBI e, por volta das 14:00, eu já tinha todo o cenário estratégico de como encontraria a gigantesca banda na minúscula metrópole paulistana.

Juntei à câmera:
1. Um "capa amarela", o vinil debut da banda, de 1979;
2. O encarte de um CD de 1998 com os autógrafos de Fred, Keith e Kate, faltando apenas o de Cindy que estivera ausente do show de 1999 por ocasião do nascimento de seu segundo filho;
3. Uma camiseta oficial;
4. Uma caneta special-power-blast-rip-print-curl-jet-pro-surf-contest-brother-action preta já pilotada por Pelé, Mark Mothersbaugh e outros famosos em outras ocasiões;
5. Uma filha de oito anos.

A estratégia para descobrir se os B's estavam ou não no Hilton Morumbi.
Encostei o carro na frente do hotel e não havia quase ninguém, a não ser por um fã com camiseta do Motorhead portando algumas revistas para autografar, um casal com uma menininha de uns dois anos vestindo uma camisetinha do Motorhead e uma van. Certamente, era van de turnê pq tinha um insulfilm parecido com fita isolante. Mas consegui ver que o motorista dormia. Mas a van poderia ser do B's, mas também do Motorhead, que se apresentaria na mesma noite... ou do Calypso, do Zezé e Luciano... de qualquer um. No hotel, funcionários sempre simpáticos ao serem perguntados, afirmavam não saber de nenhuma banda "Bê-52" hospedada. Fiquei algum tempo conversando futilidades com a recepcionista prá tentar arrancar a informação mas ela não abriu. Nessa hora, o fã do Motorhead me disse que, fazia algum tempo, sairam daquela van estacionada uns "três tiozãos e mais umas tias velhas".
Desde minha chegada se passaram uns 15 minutos e eu já estava armando o Plano B para ir ao Credicard Hall. Minha filha estava encantada com o Hilton. Até queria se hospedar lá. Foi quando percebi que o motorista da van havia acordado e o vidro estava aberto. Tinha que ser incisivo senão esse motorista me enrolava. Encostei na porta e ele já ia fechando o vidro quando eu o enquadrei a Capitão Nascimento:
- Quem vc vai levar aí?
O cara emudeceu, pensou para responder, ia gaguejar mas fator surpresa é foda!!!
- Vou levar o "Bê-52".
- Sabe o horário?
O cara ia gaguejar de novo mas resolveu se entregar...
- Estou esperando mas ninguém me informou o horário. Mas eu sei que já estão prá sair, estou me preparando para levá-los...

Agradeci, voltei ao saguão e dei de cara com dois "avós velhos" na recepção: o Lemmy Kilmister e o Phil Campbell. Me perdoem os fãs do Motorhead,  mas eu estava lá pelos B's e cometi a heresia de nem me importar com a presença deles ali, ao vivo e a cores, na minha frente. E foi a minha atitude de sorte pq, em minutos, os B's começaram a surgir na recepção, um a um.

Fred nos atendeu prontamente, foi muito atencioso mas não se alongou muito. Keith atendeu sorridente e simpático, foi mais atencioso ainda, riu das piadas sem graça que fiz, fez perguntas sobre minha filha. Quando me virei para o outro lado, Cindy chegou sorrindo  e veio rebolando, espalhafatosa, em minha direção. Me deu um branco nessa hora. Esqueci seu nome e a chamei de "Wooow". Ela perguntou da minha filha, autografou o album faltante, contou de seus dois filhos. Veio um branco maior, faltou assunto e, do nada, me veio à mente e eu soltei que tinha feito uma promessa na adolescência. E contei a ela qual era a promessa. E ela me deu um beijo no rosto.
- Espere... eu disse.
- O que? Não queria o beijo?
- Sim. Mas preciso fotografar para mostrar para meus amigos daquela época.
Ela riu, achou divertido, esperou minha filha apontar a máquina e perguntou se podia. E deu o segundo beijo, esse da foto.
Saiu, se despediu novamente quando estava na porta.


Então Kate chegou apressada. Estava atrasada e se incomodou um pouquinho com a minha abordagem. Mas o tour manager a tranquilizou e disse que estava tudo bem, que estavam no horário. Ela relaxou, tb perguntou da minha filha etc. A minha cara de pau voltou e eu pedi a ela um A-Pass para o backstage. Ela se virou para o Tour Manager: 
- Ele vai conseguir para vc. E se despediu. O Tour Manager pediu meu nome e o da minha esposa, disse que não prometeria conseguir, mas prometeria tentar. Eu agradeci e assim foi.

Desde 18 de abril de 2009 os integrantes dos B's passariam a ser: Fred, Kate, Keith e Wooow.

Hora do show. Minha esposa e eu fomos ao guichê de convidados retirar os ingressos e os A-Pass para o backstage: duas pulseirinhas verde-amareladas que davam o direito de ir ao camarim da banda após a apresentação.
Havia um palco limpo, sem muitos recursos tecnológicos. Mas os The B-52s fizeram um show inesquecível. No backstage, após a apresentação, veio a Kate e ficou algum tempo com todos os cerca de dez fãs privilegiados que estavam por lá. Keith apareceu e saiu rapidamente. E Sterling Campbell, o baterista contratado, ficou por lá mais algum tempo.
Naquela noite, retornamos para casa com uma certeza.

Puta que pariu, eu sou mesmo cagado prá caralho, eh, eh, eh, eh!!!

sexta-feira, 3 de abril de 2009

08 - Características, vantagens e benefícios da Loctite


Loctite cola uma pessoa de cabeça para baixo. Você pode colar a sua sogra, o seu chefe, aquele seu vizinho barulhento, o Marcos Valério, o George Bush. Na verdade, só estou procurando um benefício razoável para justificar colar uma pessoa de cabeça para baixo e, assim, justificar o emprego dos marketeiros e idealizadores da prova do BBB9 que acabou de acabar. Senão, onde mais conseguirão ganhar rios de dinheiro tendo idéias esdruxúlas como essas? Qualquer estudante de publicidade e propaganda primeiro anista já aprendeu que uma boa idéia se vende a partir do seu benefício oferecido. E o que é um benefício? Vamos lá ao pai dos burros:

benefício[Do lat. beneficiu.] Substantivo masculino. 1.Serviço ou bem que se faz gratuitamente; favor, mercê, graça. 2.Vantagem, ganho, proveito. [Sin. bras. e ant. (nessas acepç.): benfeitoria. Antôn.: malefício (1).] 3.Espetáculo cuja renda reverte em favor de algum artista da companhia, ou de outra pessoa, ou de uma instituição: “Artur Azevedo .... estava sempre solidário com todas as festividades teatrais e ‘benefícios’ destinados a angariar fundos para a libertação de escravos.” (R. Magalhães Júnior, Artur Azevedo e Sua Época, p. 122.) 4.Melhoramento; benfeitoria. 5.Direito conferido a alguém. 6.Auxílio monetário, por força de legislação social. 7.Ecles. Cargo eclesiástico, na Igreja Católica Apostólica Romana, ao qual se anexa o uso ou fruição de um bem.

Para se vender uma idéia ou produto a publicidade se vale da definição 4: Melhoramento; benfeitoria.

Voltando à prova do BBB9. Montaram uma parafernália monstruosa à Sticky and Sweet Tour que consumiu um tempo precisoso ao vivo, sem o recurso daquelas edições que fazem as festas de seis ou sete ficarem divertidíssimas e encantadoras, usaram o recurso de vários técnicos e contra-regras (como será que se escreve essa palavra agora depois da mudança ortográfica?), luzes, muitas câmeras e diabo a quatro Essa expressão, lá dos 70's, conta com uma variante 'diabo a sete'. Mas o que será que significa 'diabo a quatro, sete, nove, 15, 21' mesmo? Algumas expressões fazem pouco sentido, não é verdade? Sendo assim, 'diabo a qualquer número' é perfeita para se utilizar nesse texto pq a Loctite está fazendo por merecer a moldes de aluna aplicada.

Voltando à turnê da Madonna... Ops, à prova do BBB9. Tudo ali ao vivo e os nossos contra-regras e técnicos correndo para amarrar nossos quatro participantes, sendo um por vez, a um super tênis previamente preparado e fixado a uma placa de acrílico; a placa de acrílico era fixada a uma outra placa de madeira; essa placa de madeira era fixada a um chassi metálico que era fixado a cabos de segurança. Os participantes usavam um macacão resistente e um capacete; eram amarrados a um cinturão de segurança super robusto com vários mosquetões fixados a cabos que estavam fixados ao chassi que fixava a madeira que fixava a placa de acrílico que fixava as botas que fixava o participante que fixava um tubo de cola gigante que não fixava ninguém... pq era mock-up e só servia para ser arremessado no alvo pelo participante que seria solto na tirolesa de 12 metros de altura. A prova, super criativa, consistia em soltar o participante de cabeça para baixo, em tirolesa, a 12 metros de altura, colado pelos pés. O participante deveria passar por um alvo no chão e soltar um tubo gigante de Loctite durante a descida. Ganhava que deixasse o tubo cair mais próximo do centro do alvo.
Ah, vc acho tudo isso complicado demais? Então imagine para quem estava assistindo, ao vivo, com o Bial inventando o que falar pq a Loctite, por mais rápida que seja, tem um tempo mínimo de cura - ainda mais quando temos que pendurar uma pessoa diferente dos citados no início desse texto. E os pobres participantes... escorriam lágrimas de sofrimento e medo flagradas em close de HDTV para quem quisesse ver.

Onde quero chegar?

Características:

A Loctite bateu seu recorde ao sustentar cinco toneladas; É produzida a partir do cianoacrilato e adere instantaneamente a diversas superfícies. Deve ser manuseada com cuidado pois causa irritação olfativa e nos olhos.

Vantagens:

Tem mais poder de adesão que as demais colas e utiliza menos tempo para atingir a cura e permitir o manuseio dos objetos colados.

E finalmente, benefícios. Vc lembra que o benefício é quem vendo o produto. É a chave do sucesso na publicidade e propaganda. É aquilo que encanta o cliente e o faz decidir pela compra. É o fatality dos convencimentos. Então vamos lá.

Benefícios:

Maior rapidez; mais eficaz; durabilidade superior; traz economia para seu tempo e o seu bolso. Puta que pariu, Loctite é ducaralho!!! Cola até coração!!!

Sentiram a diferença?

Só que essa noite o BBB9 e seus marketeiros preferiram associar o produto ao choro, ao medo, o limitando às suas características técnicas, com muitos profissionais de cena executando procedimentos demorados, com um ao vivo cansativo, nervoso, tenso. Até a primeira descida de tirolesa se passaram muuuuuuitos minutos. Talvez uns quinze, não marquei o tempo.

Em seguida, entrou um intervalo comercial. Ah esse intervalo... deve ter sobrado caco de cu prá todo lado. Foi um intervalo longo e, na volta, todos pareciam mais agitados ainda para ganhar tempo... ou melhor: recuperar tempo. Agora os participantes eram empurrados escada acima e havia um mutirão grudando BBBers em placas de acrílico, pedestais de madeira. Pareciam soldadinhos de Forte Apache entrando na fila de abate da Swift Armour para virarem "carne de latinha'. Lembram disso? Era aquela latinha que vinha com uma chavinha na lateral a e gente ia enrolando uma tira de flandres para abrir a lata com a carne misteriosa feita de sei-lá-o-que de boi. Vinha com um brinde: uma capa de gordura mole de 2 cm mas era uma deliiiiiiiiiícia (a carne misteriosa). A mais nojenta, esquerosa e politicamente incorreta das 'delícias' da minha infância. E a mãe, ficava com o dedo cortado se bobeasse pq aquela tirinha de flandres cortava mais que faca Ginsu.

Bem, se o Bial tinha que inventar o que falar para fazer passar o tempo pq eu não posso ficar inventando o que escrever para prender vc no Rato Elétrico, caro leitor?

Vamos voltar à prova do abatedouro: chegou a vez da última participante. Ela estava quase tendo uma síncope ao vivo para todo o Brasil e países recebedores do sinal da Globo ao redor do mundo, com expressão de extremo sofrimento, muitas lágrimas e declarações de pânico em alto e bom tom quando o Bial intima com crueza: "Vc tem dez segundo para decidir se vai ou se desiste". E a vítima, como se em um último suspiro, consentiu a finalização da prova. E o BBB9 acabou. E deve ter rolado mais uma sessão de caco de cu...

Poucos leitores queridos, o que nossas universidades estão formando?

Finalizo com um slogan igualmente malgostoso:

Essa idéia não colou!!!