terça-feira, 1 de janeiro de 2019

27 - Saga do desenho do rato Rato

Sandokan é um personagem criado pelo escritor italiano Emilio Salgari. É o herói de uma série de onze aventuras tendo aparecido pela primeira vez em 1883. Sandokan é um pirata do século XIX que combate o Império Britânico e a Companhia das Índias, sendo conhecido nos Mares do Sul como o "Tigre da Malásia".
Nos 70's foi feita uma série de seis episódios e alguma emissora brasileira, na minha infância, exibiu esses episódios bem no início dos 80's aqui no Brasil. Era tão legal na época, que depois disso era Sandokan prá cá, Sandokan prá lá e tudo era Sandokan. Até o meu melhor amigo, o Sandro, virou Sandrokan. Eu não conseguia mais chamar o Sandro pelo seu nome de batismo. A partir daquele momento fora rebatizado de Sandrokan. Curiosamente e, em função da nossa amizade, acabei me tornando Fabiokan. Convenhamos, Fabiokan era um apelidozinho totalmente fora de contexto, mas dadas as circunstâncias, nos tornamos Sandrokan e Fabiokan. Até uma assinatura nós criamos: KAN. Apenas KAN, pois servia tanto para Sandrokan como para Fabiokan.
Havia sempre o ano corrente abaixo da assinatura. Isso começou em 1981 e foi até 1983, quando nos formamos no ginásio e foi cada um prá um lado. Na escola que estudamos havia desses KAN pequenininhos nas nossas carteiras, na porta do banheiro, na quadra, em algumas paredes da escola e até mesmo fora dela. KAN ficou famoso entre nossa turma e alguns amigos também queriam se tornar KAN, mas só haviam dois membros nesse poderoso clã: o Sandrokan e o Fabiokan.

1984: ano que comecei no SENAI da Mercedes-Benz. Éramos um grande grupo de 60 alunos no nosso termo (ou semestre). A cada seis meses 60 novos alunos começavam e, simultaneamente, éramos cerca de uns 300 alunos na instituição.
Logo na primeira semana o Capivara me chamou de Rato. Capivara não era assim um, digamos, um apelido bonito. Mas isso não me fez feliz ou conformado por ter sido chamado de Rato. Como é sabido mundialmente, quando vc não gosta de um apelido o dito cujo gruda para sempre. E assim tem sido nos últimos 35 anos.
Eu não queria ser Rato. Eu era um KAN. Eu era o Fabiokan.
Não teve jeito e tampouco acordo. Me tornara Rato. E como tal eu não iria mais usar a assinatura KAN; àquela altura o Sandro que me desculpasse, mas a partir daquele momento eu seguiria outros rumos apelidamente falando. E elaborei uma outra assinatura, algo fundamental na vida de um adolescente, um xixi no poste da sociedade:
Esse pequeno camundongo seria a assinatura substituta do KAN. Por algum tempo foi assim que assinei o canto dos cadernos, as carteiras da ETE Lauro Gomes e mais o que aparecesse na minha frente pedindo para ser mij... assinado.
Um dia, como tudo na vida, o ratinho evoluiu e assim ganhou uma toca, bem parecida com @:
Agora nosso amigo já tinha casa própria e assim ele ficou na sua pequena zona de conforto por alguns anos.

Já caminhando para o final dos 80's, decidi que iria fazer aulas de Alemão. Alemão é um idioma meio complexo de se aprender não sendo nativo-saxônico, mas era a tendência na empresa naquela época. Ninguém pensava no Inglês como segunda língua, mas sempre no idioma da Germânia. Por deficiências cognitivas eu não consegui aprender o idioma nos três meses em que me aventurei no Centro Social Heliodor Hesse
, a não ser por uma única frase que não esqueci até hoje: Der Verkäufer verkauft milch. E antes que me pergunte, vou deixá-los curiosos quanto ao significado.
Nessa fase, eu comprava algumas revistas importadas em língua alemã para ajudar nas aulas. Eram revistas muito bem impressas, com qualidade superior às nacionais e só podiam ser encontradas em bancas especializadas. Em uma dessas revistas, que falava da eminência da queda do muro de Berlin, havia uma foto que me chamou a atenção:
Reparem o grafite do camundongo com as longas pernas, como um pernilongo. Uma característica dos grafites do grande muro era a grande quantidade de grafites de ratos, muitos Mickey Mouse e palavras de ordem. Também foi nessas fotos que vi os primeiros grafites feitos com máscaras de cartolina, com desenhos mais definidos e menos amorfos que os grafites brasileiros que enfeiavam o centro da cidade de São Paulo e toda a extensão da Avenida Brasil, no Rio de janeiro. Naquelas fotos haviam embriões do que conhecemos hoje como arte urbana.
Achei isso tão legal e queria que meu pequeno rato cotó tivesse longas e esguias pernas como seu irmão germânico. Eis o resultado:
E se faltou resultado estético para essa primeira versão longuilínea, logo essa se transformou em algo mais parecido com o que é nosso amiguinho nos dias de hoje:
Essa tradução do brother roedor é a que ganhou o mundo, conheceu os Beatles, cantou com a Lady Di, jantou com a Madonna e até participou de um videoclipe com o Michael Jackson.
Uma noite de sábado em que não havia nada para fazer eu tomei uma caixa de lápis pasteis, daquelas que os designers usam sobre papel vergê, e fiz a primeira versão melhor acabada no meu amigo. Reparem, que por uma distração minha, ele acabou ficando sem bigodes. Onde já se viu rato sem bigodes?
No ano seguinte, ao completar um quarto de século de existência, ganhei um prato pintado e queimado por uma artesã que tinha muita habilidade em reproduzir imagens em peças cerâmicas. E imagem que servira de modelo fora justamente a imagem feita no sábado ocioso. O meu presente ou homenagem continha um rato, adivinhem... sem bigodes kkkkkk
Se você, caro leitor, por um único instante teve curiosidade em saber o nome desse rato, saiba que ele se chama Rato, simplesmente Rato. Nem sobrenome o pobre possui. É o rato Rato e ponto final.
Essa criatura nunca teve um emprego fixo e, dentre várias atividades, praticou artes marciais em 1999:
Sempre com sua cara de rato tarado, sarcástico e debochado, passou para o Século XXI com esse jeitão aqui, saltitante e com rabicho de mola:
Quando a situação ficou mais difícil, durante as recentes crises pelas quais o Brasil passou, nos idos dos 10's, acabou fazendo uns bicos como papel de parede de Windows:

Além de agora possuir bandagens nas costas, pq se tornou um rato meio surradinho de tanto aprontar, em seus mais recentes releases o rabo passou a indicar o seu, digamos, melhor amigo escondido. Quando o rabinho do rato está ereto... bem, acho que vcs já entenderam o significado.
Nunca podemos nos esquecer que esse rato é um apaixonado por um esporte que não é muito comum de ser praticado por roedores. Na internet é muito mais comum ver bulldogs skatistas do que hamsters, chinchilas ou camundongos, mas ele gosta muito e até dá um caldo quando pratica:
Atualmente o Rato já é um senhor. E como todo senhor, além das já citadas bandagens nas costas, possui pelos nas orelhas. O Rato é uma assinatura rápida. Deve ser feita em poucos segundos e nunca sai igual à anterior; tampouco será igual às próximas. Mas é algo divertido de fazer. Ele surge num canto do bloco de notas enquanto se aguarda o interlocutor ao telefone, por exemplo. Algumas pessoas fazem rabiscos diversos, setas, molas, caracóis, jogos da velha e tudo mais que a imaginação permite. Eu faço tudo isso e maios o amigo Rato.

E pq ele nunca foi desenhado olhando para a direita? Pq está sempre apontado para a esquerda?
Simples: ele não é um personagem de quadrinhos, como a Graúna ou o Bob Cuspe. Ele é apenas e tão somente uma assinatura. Algumas vezes vai um pouco além disso nas suas formas mais rebuscadas, como se fosse o alter ego do autor, mas sua evolução não vai muito além disso. Pergunto se vc escreve seu nome ao contrário ou assina invertido nos documentos? Então, com o Rato é a mesma coisa!!!

Assinado:
 :-)

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